All you need is Engov.
As sugestões para ocupar o tempo livre variavam. McCartney pretendia ir para Londres, “tomar um banho de civilização”. Lennon preferia ficar em casa. Best, como todo baterista, concordava com o que decidissem. O caçula Harrison falou por último.
— Sonhei que íamos para a Índia — disse, apontando o braço de sua inseparável guitarra para o Leste.
— O moleque pirou! — reagiu McCartney, em um misto de despeito e curiosidade. Em três anos de convivência, ele aprendera a enxergar em Harrison o potencial para se tornar o “guitarrista com ar místico” indispensável para toda banda se dar bem.
— Como iremos chegar lá? Então Harrison contou-lhes seu plano. Manhã sim, manhã não, um navio da companhia Hoepcke partia para Calecute, na costa ocidental indiana. A passagem custava 25 marcos por cabeça, menos do que costumavam gastar em bebidas em uma gig animada. A bordo, teriam tempo para descansar e, conforme a inspiração, arriscar suas primeiras composições.
— E o que vamos fazer na Índia, o de menor? — O sarcasmo de Lennon não escondia sua expectativa.
— Transcender — esclareceu Harrison, com a bonomia de quem descobriu as Quatro Nobres Verdades antes de completar 18 anos.
O silêncio geral provocado pela resposta despertou Sutcliffe, que resolveu enfim se manifestar. Chamou os quatro de goiabas, acusou Lennon de bullying e disse que por nada trocaria a quentinha cama hamburguesa que dividia com a namorada Astrid Kirchherr por uma úmida cabine de terceira classe lotada de aspirantes a hooligans ansiosos por desembarcarem em um país subdesenvolvido em busca de sentido para as suas desprezíveis existências.
O cara pegou tão pesado que, só de pirraça, Best apoiou a ideia de Harrison, sendo logo imitado por Lennon e McCartney. No outro dia, os quatro madrugaram no porto para uma aventura que causaria impactos profundos em suas carreiras e em suas vidas. Sutcliffe, coitado, morreria de hemorragia cerebral em abril do ano seguinte sem nem desconfiar do que havia perdido.
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